sexta-feira, 28 de maio de 2010

SÉQUESSO


A pátria adora conversar sobre professores. A pátria, porém, nunca fala sobre educação. Portugal ainda não arranjou coragem para lidar com este facto; os alunos acabam o secundário sem saber escrever. Parece que os professores vão fazer uma “marcha da indignação”. Pois muito bem. Eu também vou fazer uma marcha indignada. Vou descer a avenida com a seguinte tarja: os alunos portugueses conseguem tirar cursos superiores sem saber escrever”.
A coisa mais básica – saber escrever – deixou de ser relevante na escola portuguesa. De quem é a culpa? Dos professores? Certo. Do Ministério? Certo. Mas os principais culpados são os próprios pais. Mães e pais vivem obcecados com o culto decadente da psicologia infantil. Não se pode repreender o “menino” porque isso é excesso de autoridade, diz o psicólogo. Portanto, o petiz pode ser mal-educado para o professor. Não se pode dizer que o “menino” escreve mal porque isso pode afectar a sua auto-estima. Ou seja, o rapazola pode ser burro, desde que seja feliz. O professor não pode marcar trabalhos de casa porque o “menino” deve ter tempo para brincar. Genial: o “menino” pode ser preguiçoso, desde que jogue na consola. Ora, este tal “menino” não passa de um mostrengo mimado que não respeita professores e colegas. Mais: este mostrengo nunca reconhece os seus próprios erros; na sua cabeça, ‘sexo’ será sempre ‘séquesso’. Neste mundo Peter Pan os erros não existem e as coisas até mudam de nome. O “menino” não escreve mal; o “menino” faz, isso sim, escrita criativa. O “menino” não sabe escrever a palavra ‘recensão’, mas é um Eça em potência.
Caro leitor, se quer culpar alguém pelo estado lastimável da educação, então, só tem uma coisa a fazer: olhe-se ao espelho. E, já agora, desmarque a próxima consulta do “menino” no psicólogo.
Henrique Raposo

1 comentário:

  1. Caros Krommus:
    Sem qualquer ponta de revivalismo, queria só recordar que no meu (nosso tempo) tinha aulas das 9h-12h e 14h-16.30h.
    Não era muito nem pouco, era o necessário para aprendermos, convivermos e complementarmos a educação que levávamos de casa.
    Orelhas de burro, menina-de-cinco-olhos, cana era instrumentos dos quais tínhamos respeito.
    As que levámos não nos fizeram mal, não ficámos traumatizados e, principalmente, aprendemos e ler e a escrever o bom Português.
    Hoje, na maioria, existem as crianças, que desde logo são levados aos psicólogos (o que era isso no nosso tempo?), mimados com toda a espécie de brinquedos de última geração, contra o nada que não tinhamos e punhamos o nosso espírito inventivo a funcionar para brincarmos.
    Mas éramos obrigados a estudar e a saber, pois os exames eram logo na 3ª. classe, 4ª, 2º ano. 5º. e 7º.: mas para passarmos de ano as matérias tinham que estar todas na ponta da língua.
    E quem desse dois erros num ditado ou numa redacção chumbaria.
    Desgraçada Língua que tão mal-tratada é!
    Um abraço Krommático
    Vladimiro

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