O texto - O MEDO DA MUDANÇA E DAS SEGUNDAS INTENÇÕES- que a seguir se apresenta, foi escrito por um dos mais jovens Krommus da nossa família krommática. É meu sobrinho (já neto), tem 15 anos, vive em Lisboa e passa férias na Figueira da Foz. Apesar de tudo, é adepto da Académica sem ter sido influenciado pela mãe ou por mim.Guarda com muito orgulho uma camisola autografada do capitão Nuno Piloto.No final, faço um pequeno comentário ao texto.Poças PereiraO MEDO DA MUDANÇA
E DAS
SEGUNDAS INTENÇÕES
Em tempos que, diariamente os noticiários abrem com o fecho de mais uma fabrica, de mais uma empresa que vai colocar mais 100 pessoas no desemprego que vão levar mais 100 famílias a chegar à segunda quinzena do mês sem uma nota no bolso, sem saber o que vai ser o jantar do dia seguinte, porque os restos já acabaram a semana passada e o saldo do cartão já é negativamente igual ao subsidio de desemprego do próximo ano, ouvimos todos com máxima atenção e entusiasmo a notícia da manhã da TSF:
A MULTINACIONAL NESTLÉ PREPARA-SE PARA ABRIR UMA NOVA FÁBRICA NO NOSSO PAÍS QUE VAI EMPREGAR 50 TRABALHADORES. Esta é, sem dúvida, a música do dia que a voz fria e rápida do locutor nos dá a ouvir. Depois acrescenta que por palavras do director da empresa em Portugal “
Os tempos são de crise mas não podemos ter medo de parar o crescimento ao congelar o investimento”.
A criminalidade a par do desemprego também tem aumentado. Ainda há três dias o Lourenço ficou sem o telemóvel e o casaco a meio da rua às cinco da tarde. Há duas semanas, foi o Barbeiro que à noite no 701 ficou também sem telemóvel. A vida não está fácil e em certos momentos, quando há alguém que tenta fazer algo com a intenção de mudar o rumo dos acontecimentos, as pessoas que são afectadas por esta mudança demonstram desconforto pela ideia de “
mudar”. Principalmente quando estas pessoas estão inseridas no grupo social classificado por “
terceira idade”. A “
terceira idade” é a classe da população que mais sofre com a crise económica. As pessoas idosas sentem-se impotentes face à crise que faz questão de se agravar com as múltiplas contas a pagar no final do mês como a dos medicamentos e a da electricidade. Muitas destas pessoas deixam de ter condições para viver em habitações próprias e passam a viver em casa de familiares onde não se sentem confortáveis, onde não sentem ter o espaço que necessitam. Algumas das pessoas que por uma ou por outra razão vão para os famosos “
lares de terceira idade” vêem-se num ambiente controlado e depois de perder algumas das suas qualidades perdem também os seus deveres como pessoas, passando a estar dependentes de funcionários que tratam das suas necessidades diárias ocupando-se de todas as tarefas do dia-a-dia. No fim-de-semana a família vai visitar a avó ao lar e depois voltam para casa, deixando a avó mais uma semana deitada a contar os segundos que faltam para o que há-de vir.
Ontem fiquei um quarto de hora no metro do Rato a pedir a quem passava os 60 cêntimos que me faltavam para poder pagar a viagem até ao Saldanha. Nenhuma das vinte pessoas a quem eu com as melhores das maneiras pedi uns ridículos 60 cêntimos foi capaz de me dar o dinheiro. Porquê? Por não terem? – Tinham por certo! Não deram porque não ganhavam nada em troca com isso. Eu não tinha nada para oferecer. O dar leva ao receber mas não necessariamente directamente. Se eu ajudar a Maria com o Trabalho de Matemática a Maria não tem de me ajudar com o trabalho de Inglês mas pode ajudar o Frederico e o Frederico ajudar-me a mim na aula de música por exemplo.
Quando hoje estava a voltar para casa ao fim da tarde vi na Avenida da Liberdade camuflado pelos tons escuros da rua quando não é iluminada pelos hotéis de luxo, um sem-abrigo com um cobertor à sua volta abraçado a ele cheio de frio. Não tinha dinheiro nem nada de comer que lhe pudesse dar. Ofereci-lhe o meu casaco porque como já estava quase a chegar a casa não ia apanhar frio e ao vê-lo ali ao abandono da cidade senti-me mal, muito mal. Ele recusou a oferta argumentando que lhe estava muito pequeno. Eu insisti. Ele virou costas e disse para eu parar com “
aquela merda”. Virou-me costas com o ar revoltado de quem tem como casa a rua e com uma expressão como que se perguntasse “
O que é que este ganha em me dar o casaco? O que é que ele quer com isso?”
Quando cheguei a casa tirei o casaco e pu-lo em cima da cama. Sentei-me na secretaria a escrever e agora que pela primeira vez tiro os olhos da folha olho pela janela e vejo que chove. Deve estar frio lá fora. Para mim não passa de um luxo, um extra este casaco. Tenho mais, tenho demais. Deve ser esse o maior dos pecados comuns a uma grande parte da população na qual não me quero sentir incluído: tanto é o que está à nossa volta que nos tapa a visão do mundo que nos rodeia.
É preciso mudar, sem medo e com sacrifício. O caminho, esse faz-se caminhando e é de subida. Ninguém deve ficar para trás, ninguém deve ser esquecido.
A Igualdade leva ao Equilíbrio da mesma maneira que a Mudança leva ao Futuro. ESCRITO POR AFONSO BORGES
AFONSOAntes de mais quero dar-te os parabéns e dizer-te quanto orgulhoso fico com a tua educação, postura e sentido de responsabilidade. O texto está muito bem escrito, mas, sinceramente, se não estivesse, para mim não era muito relevante.O importante é o que dizes, ou seja, o modo como comunicas através dos sentimentos, dos quais destaco:
Solidariedade………..Há no texto uma clara preocupação e interesse pelos outros.
Responsabilidade.... Mostras que sabes que cada um de nós tem deveres e obrigações para com a sociedade.
Humildade…………...Percebe-se bem que não te sentes superior aos outros.
Família………………..A referencia que fazes à situação dos “
Avós”evidencia que os”
sãos valores da família” já estão inseridos na tua conduta.
Foi isso o que apreciei no teu texto e que gostei de ler. Continua assim para seres um Homem honesto, trabalhador e responsável.
Ia-me a esquecer duma outra qualidade que tens e que, para mim, é motivo de grande satisfação
ÉS KROMMU ÉS DA ACADÉMICAUm beijo sincero, para ti e manos
Titó
POÇAS PEREIRA