quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

UMA PANDEMIA DA CHINA


Divisas provenientes de todo o mundo entraram nas contas bancárias das farmacêuticas por causa da gripe A. O dinheiro, sabemo-lo bem, é contagioso. Sobretudo quando é muito, multiplica-se depressa. Significa isto que, embora de um modo ligeiramente inesperado, cumpriram-se as previsões da Organização Mundial de Saúde: acabou por haver pandemia, mas de moedas e notas. E infectaram, sobretudo, os bolsos das farmacêuticas. Haja quem tenha a caridade de nos livrar deste tipo de infecção.

Mas quem diria. Milhares de páginas de jornal a alertar para os perigos da gripe, horas de debates sobre a dimensão da pandemia, panfletos da Direcção-Geral de Saúde a ensinar os portugueses a lavarem as mãos e, segundo se diz agora (designadamente, em milhares de páginas de jornal), a pandemia foi o maior escândalo médico do século. Nada disto teria sido possível sem as reportagens e os debates. Mesmo as instruções sobre lavagem de mãos foram essenciais neste processo, para que o nosso dinheiro passasse para as mãos das farmacêuticas irrepreensivelmente limpo. Se as notas continuassem a ser manuseadas pelas nossas mãos sujas, talvez as farmacêuticas não as quisessem.

Do ponto de vista médico, a gripe A foi uma digna sucessora de outras pandemias que, sendo muito perigosas nos jornais, foram inofensivas, ou quase, na vida real. Depois da doença das vacas loucas e da gripe das aves, a gripe suína também cumpriu o seu destino: como pandemia foi fraca, mas como negócio foi um achado. Aquele "A" da gripe A é aparentado com aquele que os espectadores de jogos de futebol soltam quando a bola bate no poste: ah! Pensei que era golo... Com a gripe sucedeu o mesmo. Gripe ah! Pensei que era mais perigosa. Por outro lado, também se parece com o ah! dos burlados. Gripe ah!, já me foram ao bolso. Eu conheço pessoalmente mais sócios do Sporting do que gente infectada pelo vírus da gripe A, o que demonstra bem o falhanço da disseminação da doença. Se um grupo tão reduzido consegue, ainda assim, ser mais numeroso, dificilmente poderemos chamar pandemia àquilo que aconteceu. Ainda assim, esperemos que as pandemias continuem a fazer-nos pior ao bolso do que à saúde. Antes na farmácia que no cangalheiro, como diz o José Mário Branco na célebre canção chamada OMS. Ou FMI. É mais ou menos a mesma coisa. Se se fala num ou noutro, o melhor é guardar a carteira.

Ricardo Araújo Pereira
28 de Janeiro de 2010

NOTA: Porventura, esta senhora tinha alguma razão nas palavras que proferiu.

2 comentários:

  1. A ser verdade então sou convidado a concluir que tem razão quem diz que " anda meio mundo a enganar meio mundo ".

    Por enquanto continuo com dúvidas e não vou tirar qualquer conclusão sobre o assunto !!

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  2. Caros Krommus:
    Quando se começou a falar desta provável pandemia, falei com uma médica, perguntando-lhe qual era a sua opinião. Respondeu-me, perguntando, se tinha dinheiro para investir em acções de uma determinada empresa farmacêutica.
    É que isto iria ser um "maná",
    Pelos vistos esta minha amiga tinha razão.
    Foi só fumaça, até atendendo ao inverno frio que se tem feito sentir.
    Em termos de Portugal, só pergunto se foram ordens da OMS, e obrigatóriamente se teve que gastar dinheiro nas vacinas ou se houve também alguém que se abotoou neste grande negócio.
    Fica aqui a dúvida.
    Um abraço Krommático
    Vladimiro

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