A IMPORTÃNCIA DE SER TÚNEL

Na sua essência, um túnel servirá sempre para facilitar o acesso a um determinado local e nunca um obstáculo ao seu atravessamento. Deste modo, e sabendo que este tipo de passagem encerra algo de subterrâneo, obscuro, frio e até condicionador, é normal que alguns sintam o “poder oculto” da intimidação. Atravessar um túnel, seja ele qual for, é e será sempre uma tarefa difícil de transpor uma vez que a desconfiança de quem o faz é por demais evidente. Se bem se lembram, ainda há bem pouco tempo, a travessia do túnel da Mancha, foi um verdadeiro calvário para quem lá estava. Neste contexto, também é claro que se estivermos a falar dos túneis que dão acesso aos relvados dos estádios de futebol e pavilhões gimnodesportivos, as probabilidades de sair ileso após o seu atravessamento diminuem drasticamente. Porquê? Porque quer queiramos quer não, o volume de tráfego pedonal ali verificado pode sempre provocar danos a terceiros, ou seja, àqueles que, segundo outros, não deviam estar ali aquela hora. O problema, em todo o caso, não fica por aqui. Na verdade, quem são uns e quem são os outros? Quem são, de facto, os causadores dos danos? Nunca se chega a saber. As fotos não fazem prova, as imagens também não e, se por acaso houver alguém que diga que viu, é imediatamente desmentido por outro que argumenta ter lá estado e nunca o ter visto. É por estas e por outras, que os túneis são importantes. São tão importantes quanto de velho tem a sua fama e o seu proveito. Quem praticou desporto, lembrar-se-á certamente das lamentáveis cenas que se passavam sempre que as equipas tinham que passar pelos propalados túneis ou pequenos corredores, em direcção aos balneários. Desde as cuspidelas, passando pelas “mocadas” até aos “calduços” de mão fechada, valia tudo. Hoje em dia, a coisa está mais refinada. Os túneis na sua grande maioria já são fechados, têm câmaras de vídeo, têm os “Stewards”, o acesso (dizem) é restrito e até os “calduços” e os pontapés já são protagonizados por gente de fato e gravata. Além de tudo isto, não nos podemos esquecer que vivemos um tempo em que é preciso “alimentar” este povo viciado em polémica e mal dizer. Há que manipular e tirar partido. O tempo da ética e dos valores já lá vai. Agora, o importante é “embebedarmos” os nossos seguidores com chorrilhos de mentiras e fazer da ordem e da disciplina, palavras vãs e sem sentido. Neste tempo, que também é efémero, o que interessa é ganhar. Ganhar sem olhar aos meios que se utilizam para atingir o desiderato. E pensava eu que através do desporto era possível desenvolver todos os domínios que nos pudessem conduzir a um maior grau de desenvolvimento como seres humanos. É pena!
Será por tudo isto que os túneis hão-de ser sempre importantes e transformados em território misterioso e decisivo para o desfecho de uma qualquer competição.

[Dr. Kanelada]
04.02.2010