sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

ABRAÇO AMIGO


Mãe

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga, in 'Diário IV'

Como Mulher de Cultura, aqui fica a nossa singela homenagem, recordando este lindíssimo poema de Miguel Torga que dedicamos ao nosso querido amigo Dr. Campos Coroa nesta hora de pesar. Forte abraço!


1 comentário:

  1. Caros Krommus:
    Subscrevendo aquilo que o Tião postou, aqui deixo aquele abraço Krommático ao Dr. Coroa, neste momento difícil.
    Vladimiro

    ResponderEliminar